Jejum no Domingo? Jejum convocado por um Presidente?
Para nós católicos e fiéis ao Evangelho, um sonoro: NÃO!
Explico:
1. O Domingo, o primeiro dia da semana, desde antiquíssimo costume, é Dia do Senhor (Dies Domini), por ser o dia da Nova Criação em Cristo Jesus, Dia da Ressurreição, Dia da Páscoa semanal. Neste dia, não se jejua, mas se faz festa, pois fazemos memória do Deus vivo, que está conosco. Se o Noivo (Jesus) está conosco, vivo e ressuscitado, não se jejua, mas se festeja (Cf. Mt 9,15);
2. Isso está confirmado fartamente na tradição primitiva, com destaque para Santo Agostinho: "jejuar em dia de domingo é grande escândalo" (aqui, inclusive, criticando o maniqueísmo); bem como na Constituição Eclesiástica dos Apóstolos (Séc. IV, esteve em vigor na Síria e no Egito, centros do cristianismo da época): “Se um membro do clero, em dia de Domingo, venha a ser surpreendido a jejuar, seja deposto; se for um leigo, seja excluído”. São apenas dois exemplos, existem vários;
3. Jesus faz jejum, mas não fala muito de jejum (inclusive, é acusado pelo hipócritas de não jejuar e não ensinar tal prática aos seus discípulos). Valorizava como prática interior, não como exterioridade. Em geral, critica os HIPÓCRITAS que fazem jejum só para aparecer para os outros, que instrumentalizam o jejum para uma finalidade que não é de Deus (Cf. Mt 6,16s). Tal utilização fraudulenta, com fins estranhos - no caso atual, político-partidários - é visto como hipocrisia religiosa;
4. Nós católicos fazemos jejum e abstinência na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão (CdC 1247). Bem como, somos chamados a fazê-lo como prática penitencial, especialmente na quaresma, mas SOMENTE quando requeridos pela consciência da fé. Além destas duas data, somente o Bispo Local (ou o Bispo de Roma, o Papa), pela sucessão dos apóstolos, tem autoridade de convocar toda a Igreja para um jejum público e certamente jamais faria em um Domingo. Nunca, jamais, em hipótese nenhuma, uma autoridade política qualquer. Portanto, só deve fazer jejum em comunhão com a Igreja, quando proposto por ela, e quando sua consciência da fé exigir (o que deve ocorrer com mais ênfase, mas não exclusivamente, na quaresma), desde que não seja no Domingo;
5. Acho estranha a origem deste jejum convocado. Não partiu diretamente do Presidente, pois este se diz católico (apesar de já ter se batizado em outra igreja - negando, portanto, o batismo Cf. Ef 6,4 - e frequentar muito mais cultos do que missas), mas não convocou a partir da Tradição católica, que é não jejuar aos domingos. Isso se explica, como sabemos, porque a ideia partiu de um grupo de pastores (neo)pentecostais e fundamentalistas que tem claro projeto de poder de caráter sacrifical e anti-popular. É meramente uma instrumentalização política, com véu religioso. Sepulcros caiados, por fora são belos e limpos, por dentro são podres e fétidos;
6. Por fim, quero lembrar, remetendo à tradição bíblia, especialmente profética, que o Jejum pode agradar a Deus, mas também pode ser um OFENSA A DEUS, quando não estiver acompanhado da PRÁTICA DA JUSTIÇA. Por isso, certamente não é missão do presidente convocar jejum, mas certamente o é resguardar que famílias inteiras - informais, desempregados, desalentados - não façam jejum obrigatório ou mesmo até morram de fome, pois até agora não chegou na mão delas o benefício de R$ 600,00 (só pra citar um exemplo). Lembrando que o jejum sempre é uma oferta agradável a Deus e aos irmãos (sim, aos irmãos/ãs também, pois ele sempre dá frutos de amor, de conversão), não é possível fazê-lo em situação de necessidade, como se encontra grandes contingentes do nosso povo hoje. Por fim, deixo dois trechos do profeta Isaías, que dizem por si só:
- "Aprendei a fazer o bem: busque o direito, socorra o oprimido, faça justiça ao órfão e defenda a viúva" (Is 1,17);
- "E dizem: 'Por que jejuamos, e tu não viste? Por que nos humilhamos totalmente, e nem tomaste conhecimento?'. Acontece que, mesmo quando estão jejuando, vocês só cuidam dos próprios interesses e continuam explorando os trabalhadores. O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente" (Is 58, 3.6-7).
Dica de leitura: Carta Apostólica Dies Domini, do Papa São João Paulo II. Lá tem muito mais sobre o Dia do Senhor.Jejum no Domingo? Jejum convocado por um Presidente? Para nós católicos e fiéis ao Evangelho, um sonoro: NÃO! Explico: 1. O Domingo, o primeiro dia da semana, desde antiquíssimo costume, é Dia do Senhor (Dies Domini), por ser o dia da Nova Criação em Cristo Jesus, Dia da Ressurreição, Dia da Páscoa semanal. Neste dia, não se jejua, mas se faz festa, pois fazemos memória do Deus vivo, que está conosco. Se o Noivo (Jesus) está conosco, vivo e ressuscitado, não se jejua, mas se festeja (Cf. Mt 9,15); 2. Isso está confirmado fartamente na tradição primitiva, com destaque para Santo Agostinho: "jejuar em dia de domingo é grande escândalo" (aqui, inclusive, criticando o maniqueísmo); bem como na Constituição Eclesiástica dos Apóstolos (Séc. IV, esteve em vigor na Síria e no Egito, centros do cristianismo da época): “Se um membro do clero, em dia de Domingo, venha a ser surpreendido a jejuar, seja deposto; se for um leigo, seja excluído”. São apenas dois exemplos, existem vários; 3. Jesus faz jejum, mas não fala muito de jejum (inclusive, é acusado pelo hipócritas de não jejuar e não ensinar tal prática aos seus discípulos). Valorizava como prática interior, não como exterioridade. Em geral, critica os HIPÓCRITAS que fazem jejum só para aparecer para os outros, que instrumentalizam o jejum para uma finalidade que não é de Deus (Cf. Mt 6,16s). Tal utilização fraudulenta, com fins estranhos - no caso atual, político-partidários - é visto como hipocrisia religiosa; 4. Nós católicos fazemos jejum e abstinência na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão (CdC 1247). Bem como, somos chamados a fazê-lo como prática penitencial, especialmente na quaresma, mas SOMENTE quando requeridos pela consciência da fé. Além destas duas data, somente o Bispo Local (ou o Bispo de Roma, o Papa), pela sucessão dos apóstolos, tem autoridade de convocar toda a Igreja para um jejum público e certamente jamais faria em um Domingo. Nunca, jamais, em hipótese nenhuma, uma autoridade política qualquer. Portanto, só deve fazer jejum em comunhão com a Igreja, quando proposto por ela, e quando sua consciência da fé exigir (o que deve ocorrer com mais ênfase, mas não exclusivamente, na quaresma), desde que não seja no Domingo; 5. Acho estranha a origem deste jejum convocado. Não partiu diretamente do Presidente, pois este se diz católico (apesar de já ter se batizado em outra igreja - negando, portanto, o batismo Cf. Ef 6,4 - e frequentar muito mais cultos do que missas), mas não convocou a partir da Tradição católica, que é não jejuar aos domingos. Isso se explica, como sabemos, porque a ideia partiu de um grupo de pastores (neo)pentecostais e fundamentalistas que tem claro projeto de poder de caráter sacrifical e anti-popular. É meramente uma instrumentalização política, com véu religioso. Sepulcros caiados, por fora são belos e limpos, por dentro são podres e fétidos; 6. Por fim, quero lembrar, remetendo à tradição bíblia, especialmente profética, que o Jejum pode agradar a Deus, mas também pode ser um OFENSA A DEUS, quando não estiver acompanhado da PRÁTICA DA JUSTIÇA. Por isso, certamente não é missão do presidente convocar jejum, mas certamente o é resguardar que famílias inteiras - informais, desempregados, desalentados - não façam jejum obrigatório ou mesmo até morram de fome, pois até agora não chegou na mão delas o benefício de R$ 600,00 (só pra citar um exemplo). Lembrando que o jejum sempre é uma oferta agradável a Deus e aos irmãos (sim, aos irmãos/ãs também, pois ele sempre dá frutos de amor, de conversão), não é possível fazê-lo em situação de necessidade, como se encontra grandes contingentes do nosso povo hoje. Por fim, deixo dois trechos do profeta Isaías, que dizem por si só: - "Aprendei a fazer o bem: busque o direito, socorra o oprimido, faça justiça ao órfão e defenda a viúva" (Is 1,17); - "E dizem: 'Por que jejuamos, e tu não viste? Por que nos humilhamos totalmente, e nem tomaste conhecimento?'. Acontece que, mesmo quando estão jejuando, vocês só cuidam dos próprios interesses e continuam explorando os trabalhadores. O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente" (Is 58, 3.6-7). Dica de leitura: Carta Apostólica Dies Domini, do Papa São João Paulo II. Lá tem muito mais sobre o Dia do Senhor.
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